ILÊ AXÉ ODÉ AKUERAN 
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LENDA DOS ORIXÁS
LENDA DOS ORIXÁS

Lendas dos Orixás

Na África cada Orixá estava ligado originalmente a
uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou
nacionais. Sàngó em Oyó, Yemoja na região de Egbá, Iyewa em Egbado, Ogún em
Ekiti e Ondô, Òssun em Ijexá e Ijebu, Erinlé em Ilobu, Lógunnède em Ilexá, Otin
em Inixá, Osàálà-Obàtálá em Ifé, subdivididos em Osàlúfon em Ifan e Òságiyan em
Ejigbô.

Podemos afirmar que a cultura do candomblé no brasil, nasceu nas senzalas,
com a junção de povos(africanos) com seus costumes e orixás. Provenientes de
milhões de negros de diversos países e cidades africanas, trazidos (arrancados)
de seus lares, de suas famílias e de seus pais e filhos; para trabalharem nas
plantações de cana e café das cidades baianas, cariocas, pernambucanas,
cearenses e paulistanas. E, posteriormente, nos exércitos e fazendas de
fronteiras do rio grande do sul.

Graças aos conquistadores portugueses, franceses, ingleses e de padres e
bispos da época; (que legaram aos brancos poder de matar os negros e índios,
afirmando que os negros eram sub-humanos, e portanto, não haveria pecado.)
Milhões de negros foram massacrados nas colônias e em navios negreiros.

Porém, ironicamente podemos afirmar que: se não fosse essa catástrofe ou
atrocidade animalesca; provocadas por animais considerados humanos, contra
humanos considerados animais; hoje o brasil não teria o prazer de conhecer esta
maravilhosa cultura, sem mencionar nos orixás e seus axés.

Ao contrário que muitos acreditam, na áfrica não existia somente tribos de
índios semi-culturados. Lá existia e ainda existem, reinos com suas hierarquias
(reis, rainhas, sacerdotes, príncipes, generais, exércitos, etc.); assim como,
havia uma cultura avançada relacionada a religião e comércio em todo continente,
inclusive possuindo muitas heranças culturais egípcias, gregas e persas.

No continente africano, muitos reinos com suas ricas e milenares cidades,
foram extintos graças às influências e dominações cristãs e mulçumanas.
Aniquilando o resto da cultura existente nos países enfraquecidos pela
escravidão, tornando-os órfãos de orixás.

É fácil de se verificar que em muitas regiões africanas o povo carece de
energia (axé).

Assim:
Sem oxum (água); sem ogum (trabalho/ferramentas); sem xangô
(justiça); sem oxalá (paz); sem iemanjá (estudo/psicologia); sem nanã
(origem,família); sem odé/oxossi (comida/caça); sem ossain (remédio); etc.

É bom saber, que ainda existe cultura na áfrica, mesmo que seja em poucas
regiões.lá ainda existem reinos, príncipes, rios e orixás... Onde possamos levar
e trazer fundamentos, realizando a tão sonhada e difundida união entre
continentes; pregada, catalogada e amplamente difundida por autores como: Pierre
verger
e tantos outros.

Quanto a escravidão...
Em várias senzalas brasileiras, foram aglomerados
negros de diversas raízes, que uniram-se culturalmente; trocando, dividindo
fundamentos de cultuação e prática religiosa.
Também por esses motivos, os
negros escravos eram muito temidos. Eles arquitetavam facilmente, planos de
fuga, de defesa e até mesmo de guerrilhas.
"assim nascera: a capoeira, o
zumbi dos palmares, o candomblé, etc."

Como ocorreu ...

Sabendo-se que: era costume em muitas cortes e tribos africanas, escravizarem
os presos de guerra (principalmente os guerreiros), ao mesmo tempo que não
haviam exércitos europeus capazes de vencer uma guerra ou confronto direto com
povos africanos (os mesmos possuíam também táticas avançadas de guerra). Os
portugueses uniam-se a reis africanos, oferecendo armas e títulos da nobreza
européia em troca dos prisioneiros de guerra. Desencadeando um grande conflito
inter-continental, apenas levantando calúnias e difamações entre os povos
vizinhos.

Após anos de guerras e conflitos, muitos reinos enfraqueceram
seus sistemas de defesa, e muitos soldados já estavam trabalhando nas colônias
como escravos. Os portugueses deram o golpe final invadindo e conquistando os
reinos dos próprios aliados enfraquecidos. Arrastando para as senzalas também as
mulheres, crianças e nobres das cortes.
Assim prosseguiu a barbárie tarefa
européia de comércio humano. Até o final da segunda guerra mundial. Onde ainda
existia nas colônias africanas do império britânico, trabalho escravo e
apartheid, em pleno século "XX".

Na própria terra dos orixás a pobreza e
as doenças, assistidas e divulgadas em meios de comunicação, como ex: em angola
(ex-colônia portuguesa); tiveram como principal foco inicialisador, a extinção
da cultura dos povos por seus opressores. Onde muitos habitantes, não reconhecem
mais seus antepassados. Perdendo o elo com seus orixás.
Porém, assim como
ocorreu na escravidão no Brasil, sabemos que na África, existem bravos
sobreviventes, que lutam para que seus paises resgatem sua cultura e
prestígio.

E torçamos para que a cultura dos orixás permaneçam vivas e
fortes em muitos corações e povos, sobrevivendo inclusive de ataques das
religiões que se dizem únicos donos da "palavra de deus"; Induzindo inclusive a
separação de negros e brancos como nos EUA, por exemplo: onde o negro abdicou
totalmente de sua cultura ancestral, absorvendo a religião e os
costumes(cultura) dos brancos, onde pregam em suas liturgias a paz e o amor,
assim como a igualdade entre os homens. Mas mesmo assim, foram humilhados e
separados dos demais brancos. Onde reza um negro, não reza um branco, e cada
qual possui sua igreja de mesmo deus, (para brancos e negros), perdendo assim
sua identidade , seu orgulho, sua cultura.

E aqui no brasil, quando não mais houver crianças chorando com fome, e
pessoas somente criticando os atos das pessoas de boa vontade ao invés de
contribuir ou ajudar. Certamente este país mais fértil, mais cultural e com o
povo mais nobre e humano do mundo. Terá certamente lugar de destaque, respeito e
reconhecimento em todo o planeta.

Hoje conhecemos a religião africana no continente americano
como:
-candomblé, batuque, xangô, santeria, vodoo e outras)
Em cada grupo,
juntaram-se culturas, associadas ao maior ou menor número de pessoas originárias
da mesma raiz (nagô, ketu, angola, oyo, jêje, ijexá, etc) (ver
mapa)
.

Em muitos reinos/cidades, cultuava-se diferentes orixás em cada
raiz(família). Como em muitos locais, eles conheciam orixás por diferentes
nomes. Ex: obaluaie e omulu em ketu(nagô); xapanan e sapakta em jêje. (que são
os mesmos orixás). E que em muitas nações foram associados a outros orixás,
tornando-se qualidades.
Seus fundadores ou reis, eram cultuados
especificamente em suas próprias cidades conquistadas ou fundadas. Ex: xangô em
oyó, logun-edé em efon, oxossi em ketu, etc. Sendo até hoje reverenciados,
servindo de pilar na identificação da origem de cada casa de candomblé existente
no brasil.

Também em várias regiões da áfrica, existem ainda sacerdotes e
obás(reis) supremos de determinados orixás, sendo os mesmos detentores únicos de
todos os segredos e fundamentos a um ou dois orixás específicos.
Em muitas
nações, os mesmos orixás, ou possuem cultos únicos e diretos, ou tornaram-se
qualidades de orixás primários. Ex: no oyó (batuque) otin é um orixá feminino
que se cultua junto a odé. Em outras nações de candomblé, a mesma é uma
qualidade de oxossi/odé. Assim como ibeji, etc.
Infelizmente, muitos outros
orixás não são mais cultuados, pois perderam-se os fundamentos dos mesmos, porém
ainda existem na natureza, e seus axés (energias) ainda reinam no universo.

Nota: devido as diferenças litúrgicas e culturais existentes entre nações
africanas de raízes, jêje, angola, ketu etc. Sempre ocorreu uma certa desunião
entre as mesmas.
Umas das principais missões nesta obra, é a de promover a
união da religião africana no Brasil.
Não nos referimos a uma união litúrgica
(modo de cultuação e prática), pois sabemos que é devido aos costumes de nossos
antepassados, que desde a antigüidade, cultuavam orixás diferentes em cada nação
religiosa. Mas sim, numa união cultural.
Portanto, não devemos nos atenuar em
diferentes nomes de qualidades designadas a orixás, exús e até mesmo certas
diferenças ligadas a maneiras de tocar um candomblé/batuque/xangô,
etc.
Devemos sim buscar maneiras de interagir nossos conhecimentos e cultura
em prol de uma união mais sólida, respeitável e influente.

REFERÊNCIA: Casa dos Orixas 02

Origem...

São muito contraditórias as
publicações referentes a verdadeira origem da religião dos orixás na
áfrica.
Alguns historiadores, associam Oduduá o "conquistador". Com Nimrod;
também citam a semelhança de nosso método de consulta a Ifá (oráculo), com a
Kaballah judaica; Dan a serpente telúrica representando a eternidade, com a Dan
serpente referente a umas das doze tribos de Israel e outras. Ou seja, muitos
historiadores afirmam que os yorubás possuem descendência judaica.
Outros
defendem somente a tese que: os orixás são antepassados divinizados de antigos
reis africanos, assim como generais e sacerdotes; que tiveram suas façanhas
eternizadas nas histórias dos antigos. Lendas repassadas de geração em geração
aos descendentes dos reinos e tribos africanas.
Em suas pesquisas,
constataram a presença de influencias egípcias e fenícias na cultura
yorubana.
Verger mostrou em suas obras, que nossa origem é remota a muitas
outras conhecidas, como gregas e romanas. Pois temos orixás em nosso culto que
são anteriores a conquista e conhecimento do metal, como nanã.

Verger também tratou de mostrar a semelhança existente entre nossos
deuses e deuses gregos, como por exemplo:
Zeus: deus grego do trovão e dos
raios, tem como símbolo um machado duplo.
Xangô: deus yorubá dos raios e
trovões, tem como símbolo um oxé (machado de duas lâminas).
Certamente em
meio a tanto estudos, podemos afirmar que em um vasto continente como o
africano, é certo que todas as teses são corretas.
E que aos poucos, todas
estas origens regionais, fundiram-se formando uma cultura sólida e única, que
conhecemos hoje como a cultura dos orixás; verificadas em todos os povos
(yorubanos, angolanos, jêjes, etc.), com seu xangô, oduduá, obatalá e demais
reis, guerreiros e sacerdotes. Eternizados e unidos com as energias da natureza
(florestas, animais, rios, oceanos, etc.) Onde em nossos ylés são louvados e
suas histórias narradas a nossos iniciados, afim de servir de exemplo de conduta
e fé, associada a natureza e bem estar da sociedade.

Tal como em livros
milenares, editados como por exemplo: a arte da guerra do general chinês "sun
tzu" vendido no mundo todo. Narrando suas condutas e táticas de batalhas,
transformadas em auto-ajuda, associada a negócios e condutas para os dias
atuais.
Nós também ensinamos a nossos seguidores, as histórias de nossos reis
(Xangô) de nossos generais milenares (Ogun), etc. Com suas táticas, seus erros,
suas virtudes e glórias; afim que possam ter como princípio de vida, o
equilíbrio associado a normas e condutas culturais de nossos antepassados.
E
com simbologias e danças em louvor a nossos antigos mestres saudamos nossos
orixás e antepassados, que em energia nos lega seu axé.

Sincretismo...

Nos referimos a
sincretismo, quando são associadas duas religiões em um único culto, com suas
simbologias e doutrinas mescladas.
No caso do candomblé/batuque, foram
associados imagens de santos católicos a nossos orixás. O que existe uma
explicação inconteste e única para tal associação.
O sincretismo religioso,
nasceu também nas senzalas. Hoje há uma grande diferença de sincretismo de
orixás nas nações de candomblé.
Na bahia, ogum é sincretizado por são
sebastião, no rio grande do sul por são jorge, e assim por diante.

Na
época quando ouve a troca de cultura entre os habitantes das senzalas, os negros
continuaram a cultuar seus orixás, mesmo após os brancos com sua santa
inquisição católica, obrigarem os negros a converterem-se ao cristianismo e
trocarem seus nomes originais, por nomes portugueses.
Quando os negros
dançavam para seus orixás, eles colocavam sobre o "assentamento", estátuas de
santos católicos para enganar os inquisidores.
Como eles cantavam aos seus
orixás em seu dialeto primitivo, os padres e fazendeiros, tinham a ilusão que os
escravos louvavam os santos católicos na linguagem yorubá. Mas na verdade,
estavam usando as imagens destes santos para esconder em seu interior, suas
obrigações e verdadeiras simbologias dos orixás.
Certamente, os negros
assimilaram muito bem os ensinamentos dos senhores brancos, utilizavam as
imagens católicas comparando-as aos orixás por aparência ou feitos. Como
exemplo: oxalá com jesus, oxum e yemanjá com as aparições da virgem maria,
oyá/yansan com santa bárbara e assim por diante.

Mas cabe lembrar: os negros só usavam as imagens católicas no propósito de
esconder suas obrigações, em hipótese alguma, os negros cultuavam os santos
católicos como orixás.

Algumas considerações...

A palavra
candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste
sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra
e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de
sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu
personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas
paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos
encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente
povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser
expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do
Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a
necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos.
Os
trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de
tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu
para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se
deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A
religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a
resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo
mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá
protetor.

No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias
raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças,
criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é
possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que
implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por
Iaôs recém saídos das camarinhas, dos roncós.

A força se espalhou, o axé
cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé (religião
de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de
negros, portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como
coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado, branco e preto.
Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro resolveu
tentar agir como se fora branco, para ser aceito.

Ele dizia:
- meu
Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bomfim, seu Santo, nhô! Não é para
Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do Bomfim.
Sincretismo. Forma de resistência que criou grande onus, severas cicatrizes
desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é implacável. A imobilidade não se
mantém. O filho do africano já dizia que não confiava em negro brasileiro (o
sìgìdì, por exemplo, um encantamento de invisibilidade e criação de elemental,
não foi ensinado). Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos
torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um
feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação
de terreiros. Massificação, turismo, folclore.

Mas os grandes iniciados,
iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Odé Kayode
- Mãe Stella de Oxossi , em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e
explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião
independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas falavam: "- sempre
fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja,
fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso". Era a
tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra do último grilhão. A
represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos quase estéreis da
sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma
religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeista, é monoteista: acima
de todos os Orixás está Olorum. Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um
Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este existia. Ouvindo a
seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia".

Agora um
novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a
corrosão das instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas
religiões, com as doutrinas esotéricas alternativas, o candomblé, agora
considerado religião, é visto também como uma agência eficiente: resolve
problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não
se ouve "o negro de alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma
negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história com o Santo". Mais do que nunca
as Iyalorixás e Babalorixás se questionam. As armadilhas, os "caça-fugitivos"
estão instalados. São os congressos, a TV - é a mídia - os livros, a 'web', em
certo sentido. Tudo isto é transformado, por nós, em pinças para separar o joio
do trigo, porisso estamos aqui. Dizendo o que somos, damos condição para que se
perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o aposto.
Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita.

As
Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo
(segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do
ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo canais
de expressão para o ser humano.

- Oni Kòwé -
Salvador, outubro de
1996

Referência: ACAIBA

Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo
específico de religião formada na Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu",
que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo
candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.

"O CANDOMBLÉ: SUAS NAÇÕES E VARIANTES"
• NAÇÃO KETÚ
• NAÇÃO
ANGOLA
• NAÇÃO JEJÊ
• HISTÓRICO

O candomblé e demais religiões
afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com
diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas:
candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e
Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro.
A organização
das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século
XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo
durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram
fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período
puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e
socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num
processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições
sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a
formação de grupos de culto organizados.

Até o final do século passado,
tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos
grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de
janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França
no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira:
a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião
brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de
tradições africanas, espíritas e católicas.
Desde o início as religiões
afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor
com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular
politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir
de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de
classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de
nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.

O candomblé, que até 20
ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros
locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos
grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir
de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a
umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da
população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião
exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste
período a umbanda já começara a se propagar também para fora do
Brasil.

Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca
das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar
o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se
iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se
estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto
aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua
velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como
sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida
descendente, a umbanda.

Nesse período da história brasileira, as velhas
tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram
excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao
sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse
conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam
por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura
brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram
desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de
candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas
mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o
vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente
constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades
industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de tantas
desilusões.

O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e
culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a
presença de instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos
terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser
encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram
pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas.

O termo candomblé
designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores
dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que
foram as principais fontes culturais para as atuais "nações" de candomblé vieram
da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire
e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os
iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da
Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil
como na origem africana. inicio

Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação
de origem iorubá. Quando se fala em candomblé, geralmente a referência é o
candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos: a Casa Branca
do Engenho Velho e duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá e o
Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé queto tem tido grande
influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitas de suas prática
rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o significado das palavras e a
sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as
seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos
são também denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em Pernambuco,
oió-ijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a
quase extinta "nação" xambá de Alagoas e Pernambuco.

Mais recentemente,
quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado
por todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua
propagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se um movimento de
recuperação de raízes africanas conhecido como "africanização", que rejeita o
sincretismo católico, procura reaprender o iorubá como língua original e tenta
reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos
esquecidos dos orixás.

Fonte, Internet

A
"nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os
chame pelos nomes de seus esquecidos inquices, divindades bantos, assim como
incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual,
também intraduzível, originou-se predominantemente das línguas quimbundo e
quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância o culto dos caboclos, que
são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os
verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo
território a que foram confinados pela escravidão. O candomblé de caboclo é uma
modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados
indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram
origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a
cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.

Fonte, Internet

A nação jeje-mahin, do
estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua
ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas
divindades centrais são os voduns.As tradições rituais jejes As tradições
rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com
predominância iorubá.

A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa
estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação
Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado
pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome
dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste,
porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do
lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar
onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga
dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste
caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a
tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.

 

Há sacerdotes africanos que vêm ao Brasil aprender sobre a sua própria
religião. Este é um fenômeno extraordinário de sobrevivência cultural e de
desenvolvimento de tradições massacradas pelo tráfico de escravos. Iorubas,
daomeanos, os fanti-ashanti, os bantos, contribuíram de diversas maneiras para a
religiosidade afro-brasileira, introduzindo variantes rituais. A corrente
Jejê-Nagô, no entanto, constituiu-se como a principal referência estruturante a
partir do século XIX. Fenômeno semelhante ocorreu no Caribe, com o Voudou no
Haiti ou a Santeria em Cuba. Religiosos destas três regiões - litoral do Brasil,
Caribe, África Oriental - constituem um circuito de práticas sagradas comuns que
ainda hão de desenvolver as suas relações.

A vitalidade das tradições
afro no Brasil evidencia-se por um modo particular de expansão. Não se
restringiu à afirmação dos limites de uma identidade étnica. A simbologia negra
e a memória africana são fortemente reiteradas, com certeza, e oferecem uma
fonte perene de elementos animadores dos movimentos negros. O negro não é, para
os fiéis, no entanto, a cor identificadora da essência de sua religião. Oxum é
do amarelo ouro, Oxossi do verde das matas, Yemanjá do azul-marinho, Xangô do
vermelho e branco, e assim por diante, pelas cores do arco-íris. A ênfase ritual
não é posta na história da destribalização, do tráfico, da tremenda travessia
oceânica ou da violência desagregadora nos trabalhos escravos.

Os ritos
e mitos do Candomblé pouco falam de história. Valorizada, sim, é a presença dos
orixás nos espaços sagrados, assim como sua influência nas cabeças e no
comportamento das pessoas. O Candomblé dramatiza relações de uma dimensão
cósmica, que se passam no tempo mítico, compreensivo da vida como a conhecemos.
Esta abertura mítica, combinada à dinâmica sincrética do catolicismo no Brasil,
levou a que as verdades do Candomblé fossem percebidas como tais e eventualmente
apreciadas por um vasto contingente de brasileiros, fossem eles negros, mulatos
ou brancos. O Candomblé sempre foi condenado pela Igreja, mas o ministério
clerical nunca teve grande penetração entre a massa dos fiéis. Foi perseguido
pelo Estado e com violência ainda no período getulista, mas os policiais que
invadiam os terreiros eram, eles próprios, com freqüência, temerosos
freqüentadores dos mesmos. A perseguição diminuiu a partir dos anos 50, dando
mais liberdade para a multiplicação das casas de culto e para a sua
frequentação. Movimentos culturais passaram a enobrecê-lo na literatura, na
música, no cinema ou na TV, emprestando-lhe um brilho que é atraente até mesmo
para as elites.

Sua influência sobre a Umbanda, movimento novo e
expansionista, levou os orixás a serem cultuados em círculos mais amplos,
inclusive de classe média. Um levantamento dos anos 80 registrou cerca de 16 mil
centros de Umbanda no Rio Grande do Sul, por exemplo, a maioria deles liderada
por descendentes dos alemães, italianos, poloneses e de outros imigrantes
europeus. Há devotos dos orixás entre japoneses e judeus no Brasil. Casas de
Candomblé e Centros de Umbanda proliferam na Argentina por influência
brasileira.

A sofisticação estética dos ritos do Candomblé contribui, sem
dúvida, para a atração que exerce nas pessoas em geral e, particularmente, nos
meios artísticos. As cerimônias abertas de cada casa de culto têm a
característica de uma "festa". As divindades que nelas se manifestam não vêm
para pregar ou distribuir conselhos. Vêm expressar a sua energia vital,
dançando. Fazem isto de modo solene, seguindo uma estrita lógica ritual,
comandada pelo som dos atabaques e dos cantos. Vestem-se com pompa e produzem um
gestual codificado, identificador de cada orixá. As festas terminam,
invariavelmente, com um jantar aberto ao público, feito de comidas sagradas,
relativas ao evento da noite.

As Casas de Candomblé desenvolvem uma
intensa e constante atividade de manutenção das relações entre o sagrado e o
profano. O espaço é cuidadosamente subdividido, com o barracão para as festas
públicas, a camarinha, para os iniciados, o peji, de acesso restrito e onde
ficam os objetos sagrados, as casas de cada orixá, de frequentação especificada,
as plantas sagradas, a sala de recepção para os fiéis etc., compondo uma
arquitetura tão complexa quanto a hierarquia do culto.

As obrigações para
cada orixá, as iniciações, o atendimento individualizado do público, as
adivinhações, a leitura dos búzios, uma variedade de ritos particulares, a
difícil harmonização dos distintos poderes que constituem uma Casa de Candomblé,
o relacionamento com a sociedade exterior, tudo isto deve ser cuidado no
detalhe, segundo uma estética ritual meticulosa. A autoridade de uma Ialorixá
(mãe de santo) ou de um Babalorixá (pai de santo) está vinculada, justamente, ao
seu domínio sobre todas estas matérias. O conhecimento sobre como fazer, as
justificativas para cada gesto nas tradições, compõem o vasto acervo simbólico

O candomblé é uma religião que teve origem na cidade de Ifé, na
África,
mapa
e foi trazida para o Brasil pelos negros iorubás. Seus deuses
são os Orixás, dos quais somente 16 são cultuados no nosso país. Essú, Ògún,
Osossi, Osanyin, Obalúayé, Òsùmàré, Nàná Buruku, Sàngó, Oya, Obá, Ewa, Osun,
Yemanjá, LogunEde, Oságuian e Osàlufan.
O Pai ou a Mãe de Santo é a
autoridade máxima dentro do candomblé. Eles são escolhidos pelos próprios Orixás
para que os cultuem na terra. Os Orixás os induzem a isto, fazem com que as
pessoas por eles escolhidas sejam naturalmente levadas à religião, até que
assumem o cargo para o qual estão destinadas. Uma pessoa não pode optar se quer
ou não ser um Pai ou Mãe de Santo se não acontecer durante sua vida fatos que a
levem a isto.
São pessoas que de alguma forma são iluminadas pelos Orixás
para que cumpram seu destino.
Os Pais de Santo, normalmente, são donos de uma
roça, ou seja, um lugar onde estão plantados todos os axés e no qual os Orixás
são cultuados. Dentro da roça existe o barracão (assim denominado por causa dos
negros que antigamente moravam em barracões), que é o lugar em que são feitos os
grandes assentamentos (oferendas) para os deuses.

Hierarquicamente,
existe, ainda, na roça um pai pequeno ou mãe pequena, que é o braço direito do
Pai de Santo e é normalmente um filho ou filha da casa. Depois vem as Ekedes,
são mulheres também escolhidas pelos Orixás para cuidar deles e ajudá-los.
Embora sejam consideradas autoridades dentro da roça, não podem ser Mães de
Santo, visto que sua função já foi determinada e não há como mudar.

A
seguir vem os Ogans, que tocam os atabaques e ajudam o Pai de Santo nos
fundamentos da casa; a Ya Bace, que toma conta da cozinha, isto é, de todas as
comidas dos Santos; a Ya Efun, dona do efun (pemba), e que está encarregada de
pintar os Yaôs (iniciantes que estão recolhidos para fazer o Orixá); e
finalmente os filhos de Santos, que são as pessoas que "rasparam o Santo", ou
melhor, rasoaram a cabeça para um Santo a pedido deste.
Às vezes o Santo, ou
Orixá, incorpora em determinadas pessoas, mas não há necessidade que haja esta
"incorporação"para que uma pessoa raspe o Santo. Se a pessoa deve ou não raspar
o Santo só pode se sabido com certeza através do jogo de búzios do Pai ou Mãe de
Santo que, diga-se de passagem, são os únicos que podem jogar búzios.
O
candomblé é uma religião com uma vasta cultura e rica em preceitos. São
pouquíssimas as pessoas que realmente a conhecem a fundo. É necessário muita
dedicação e anos de estudo para se chegar a um conhecimento profundo da seita.
Seus preceitos são todos fundamentos e qualquer um pode se dedicar ao seu estudo
e desfrutar seus benefícios. Existe muita energia positiva no candomblé, e o seu
culto pode trazer paz e felicidade.

Origem do Candomblé: Ifé

A
antiga cidade de Ifé, ao sudoeste da atu

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                               Feitura de santo

Feitura de santo é um termo usado nos terreiros de candomblé, que significa a iniciação de alguém no culto aos orixás. Ver Iniciação Ketu

Iniciação no candomblé.

A iniciação é um rito de passagem, uma morte simbólica que transforma um homem comum em um instrumento do Orixá, em "elegun" um Iaô, pessoa sujeita ao transe de possessão, a emprestar seu corpo para que Orixá viva entre nós mais uma vez, por um período de horas ou dias.

O iniciando passa por ritos complexos, de isolamento e segregação, de silêncio absoluto, de tonsura ritual, de sacrifícios de animais, de oferendas de alimentos, de pequenos cortes (cura) para inserção de pós mágicos em seu corpo (cicatrizes sagradas que definem os futuros sacerdotes), simbolizando uma volta ao útero da Mãe Terra, de onde renascerá, não um homem comum, mas o instrumento de um Orixá, que por sua boca e seu corpo falará e se manifestará, aumentando assim seu conhecimento e o de todos os outros crentes.

A pena vermelha, chamada ekodide, que o elegun carrega em sua cabeça, simboliza realeza, honra, status adquirido pelo fato de ele ter se iniciado para ser um novo sacerdote dedicado ao culto daquele Orixá. As pinturas em cor branca, azul e vermelha, feitas a partir de substâncias vegetais e minerais.

O bom não é suficiente, só o melhor é dado para o Orixá. Por muitos dias o neófito irá carregar consigo um colar especial de sagração no pescoço, chamado de Kelê simbolizando seu amor, devoção e sujeição ao Orixá.

Cumprirá resguardo sexual, porque esta energia não pode ser desperdiçada, toda sua força energética deve estar centrada em Orixá. Comerá comidas especiais comida ritual, dormirá no chão, em uma esteira, aprenderá com os mais velhos as orações e cânticos de seu Orixá. É um tempo de amor, dedicação e aprendizado, um reaprender a viver, uma inserção do sagrado no cotidiano, uma experiência que não pode ser descrita, mas sim vivida.

E a possessão faz parte de tudo isso, um ser dominado; um compartilhar corpo e espírito com Orixá; um ser o orixá e voltar a ser o homem; sem a menor possibilidade de interferência, em que a perda de vontade própria e a submissão são aprendidos sem que se ensine ou aprenda, por instinto e memória ancestral.

E, ao fim de tudo, o elegun reaprende os atos do dia a dia,num ritual chamado Apanan retoma sua vida diária, mas para ele estará em primeiro lugar e sempre o Orixá.

 




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